Ela estava lá, como uma lady: linda, elegante e em pose de quem sabe que está elegante, portanto respira com elegância. Esperava o ônibus, que ainda não veio, mas enquanto isso olhava ao redor.
Viu uma mulher sentada na calçada com seus grandes sacos espalhados em volta do corpo. Vasculhava neles como quem organiza a bagunça no escritório. Ía colocando tudo ao seu lugar. Era suja, mal vestida, cabelos desgrenhados, no entanto oferecia uma calma e tranqüilidade imaginadas apenas na intimidade de nossas casas.
Também reparou no gato que se encolhia no pedaço de sol que batia no chão. Era peludo, pêlo sujo, baixo e sem brilho. Era lindo!
Tinha ainda a criança pela mão da mãe que como ela observava o seu entorno. “O que será que ela pensava? Enxergava o mesmo que eu?”
A mãe, por sua vez, estava aflita com o tempo que lhe escapava e o ônibus que não vinha. Não via nada ao seu redor. Segurava firme a mão da filha, única conexão com aquela realidade. Estava em outro mundo, possivelmente preocupada com o que já deveria estar fazendo no trabalho ou em qualquer outro lugar, menos ali. Não percebeu quando a filha se encantou com o gatinho, nem quando a menina respondeu ao sorriso da mulher.
Por fim o ônibus chegou e levou a elegante que tudo acompanhou, a filha que desfrutou da pequena pausa e a mãe que parece nunca ter estado ali. Ficou o gato, pelo menos enquanto o sol permaneceu. E a mulher.
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