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Foto do escritorBeatrice Neumann

Sobre diferenças


Quando alguém quer exemplificar uma grande inimizade, costuma dizer “são como cão e gato”, selando assim uma total incompatibilidade, fonte de diferenças irreconciliáveis. Cães são de um jeito, gatos são o oposto.


Cães são prestativos, atentos, companheiros, sempre prontos a agradar seu amado dono. O gato não tem dono e nem sempre está pronto a ser agradado.


Para os cães pode-se usar o plural, o gato é um individualista. Tem sua hora e seu tempo para exigir o afago, o colo, a companhia. Os cães nem precisam ser chamados, seguem seu dono, cauda abanando pela satisfação de sua presença e estão sempre a seus pés caso ele se disponha a uma brincadeira. Experimente chamar um gato, ele no máximo mexerá uma de suas orelhas e voltará ao majestoso sono a que está entregue em sua poltrona favorita (a do dono).


Mas se o seu “dono” resolver ler o jornal, o gato levantará de sua poltrona favorita (aquela que o dono já havia cedido ao gato) e se instalará justamente sobre a notícia que mais interessa no momento. Experimente tirar o gato de cima do jornal e este se transformará instantaneamente em farrapos, suas mãos correndo o mesmo risco (ou muitos riscos – qual o dono de gato que não carrega tatuados os acessos de mau-humor de seu estimado bichano?). Já os cães, se adequadamente treinados, colocarão o jornal aos pés de seu dono, esperando em troca apenas um pequeno afago. E ficarão ali ao lado da poltrona aguardando o menor sinal de algo novo a ser compartilhado com seu ídolo, o dono. O gato espera que todos os sinais de seu “dono” sejam de pura idolatria e respeito a suas necessidades.


Ao chegar em casa, o cachorro receberá seu dono como se não o visse há décadas, prestando-lhe todas as reverências com saltos, ganidos e lambidas. O gato o receberá com um miado ressentido e insistente para que ele venha de uma vez encher seu prato de comida ou servir-lhe água, de preferência corrente e na “conchinha”.


Quem tem o privilégio de conviver com ambos, aprende fácil o sentido das várias formas que a palavra diferença pode assumir. Um é a autoridade, a soberania, o desapego, o outro é a obediência, a servidão e a total fidelidade. São tão absolutamente diferentes que chegam a ser complementares. Nenhum ser humano teria um bom desempenho nesta vida se copiasse o comportamento de apenas um deles. Os gatos nos ensinam a priorizar nossas necessidades, a conviver com a quietude e o relaxamento e principalmente a buscar a autonomia. Os cães nos ensinam o valor da amizade, do conforto do companheirismo e o inestimável prazer da convivência.


Pelo avesso, os gatos nos treinam a reconhecer e a nos proteger de pessoas egocêntricas e exigentes, quando as identificamos como “personalidades gatos” e aprendemos que não são criaturinhas peludas e indefesas como o nosso bichinho de estimação. Já os cachorros podem nos sinalizar que nem toda a fidelidade canina é a melhor companhia, já que em pessoas a autonomia e a habilidade de dizer não podem ser grandes qualidades.


Um pouco de cada, em cada um, pode reduzir diferenças.


Por Beatrice Neumann



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